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Como o Corona Vírus mudou a cozinha?

“Nenhum exercício de yoga, nenhuma meditação em uma capela cheia de música vai te livrar do sentimento de melancolia melhor do que a humilde tarefa de fazer seu próprio pão”

M.F.K. Fisher


Fisher, escritora americana de destaque disse a frase acima há mais de um século, e acertou em cheio para nosso modo de viver durante a pandemia (e após também). Para muitos, a cozinha se tornou uma “válvula de escape” durante a quarentena.

Veja só esse gráfico do Jornal Nexo:

Um cenário diferente para todo mundo, de repente você está “trancado dentro de casa”, sem poder sair, sentar-se em um restaurante e pedir sua comida. Delivery é sua única opção, mas ao mesmo tempo, você precisa burlar o tédio e inovar nos afazeres domésticos – seja para entreter as crianças ou até mesmo para passar o tempo e não enlouquecer diante da avalanche de notícias nada legais.

Eis que de repente muita gente descobriu que tem uma cozinha dentro de casa! Um lugar mágico, transformador, que te enche de boas energias e te faz entender a vida... sim, entender a vida!

Cozinhar te faz entender melhor a vida, a cozinha te ensina que cada coisa tem seu próprio tempo, é preciso saber esperar e deixar as coisas, por vezes, se desenvolverem sozinhas, sem nosso controle egoísta. Cada ingrediente tem seu tempo de cocção e sua individualidade. O arroz arbóreo, por exemplo, precisa ser mexido vigorosamente, sem interrupção, até que se mostre pronto. Já o arroz agulhinha precisa descansar macio em chama branda, sem interferências. Cozinhar envolve dedicação, espera e perspicácia. Não adianta gastar todo o seu tempo picando alho e cebola meticulosamente para tentar compensar depois puxando os dois em fogo bem alto.

A vida exige a mesma espera e organização. Cada gaveta da nossa história pede uma atenção específica. O mundo não anda no mesmo tempo da gente, e reconhecendo isso, finalmente aprendemos a deixar tudo fluir, como se abandona um caldo borbulhando enquanto as outras panelas carecem de um olhar constante.

Cozinhar é respeitar o tempo das coisas. Viver é entender o tempo das coisas.

O Covid-19 mudou muita coisa no mundo e ainda vai mudar, mas nem tudo foi pra pior: ele mostrou pra muita gente o quão prazeroso é pegar um punhado de algo qualquer, colocar na panela e acompanhar a transformação dele durante a cocção. O quão mágico é fazer uma receita de bolo com as crianças, deixar sujar, deixar quebrar o ovo, deixar colocar a mão na massa!

Ensinou também o quanto devemos valorizar aqueles que muitas vezes passam despercebidos: o entregador, o garçom, o cozinheiro. Pessoas que não saíram da linha de frente para manter a comida na sua mesa.

Uma pandemia mostrou para muita gente que um cômodo da casa é capaz de te fazer esquecer os problemas, mostrou também que o valor de um prato em um restaurante não é designado basicamente pelos seus ingredientes base, mas sim pelo processo pelo qual ele precisa passar para chegar a mesa. Muita gente entendeu que fazer um delicioso ossobuco, não leva só o tempo entre o garçom retirar seu pedido e te entregar o prato. Muita gente também entendeu que vários certificados de mestrados e doutorados tiveram que ser “engavetados temporariamente” e que aquela pessoa que as vezes é invisível (o entregador, o garçom, o cozinheiro, a pessoa da limpeza) foi considerada ESSENCIAL.

Sars-CoV-2, o vírus que apresentou a cozinha para muita gente, mas que também mudou a maneira de enxergar esse ato tão gratificante.

E você, tem se arriscado na cozinha durante a quarentena?

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